O tempo não corre. Flutua pelos minutos num ritmo enlouquecedor de relógio, um tanto quanto sádico, como se esperasse meu limite pessoal. As unhas roídas, a insônia, tédio. Muito tédio. A tv ignorada brilha o reflexo na janela contrastando o escuro que toma o resto do meu quarto. O frio amortece os pés descalços sob o cobertor e a chuva no vidro briga com o volume da televisão. A tv sem público, as conversas com o cachorro, tédio. Metade da vida foi passada com muito tédio. Isso tem cura? O psiquiatra diz que não é nada, é só tédio. O tédio que te aguarda, em cada espaço vazio da vida. O tédio que te segura, em cada momento perdido de ocupação. São onze horas e o ponteiro do relógio faz questão de me lembrar em cada batida que o tempo não passa. TÉDIO. Cinco letras de angústia. Estado de espírito ou substantivo? Não é nada, só tédio.