O que eu sou realmente? Sei lá, eu não me conheço. E tenho medo de me conhecer. Na verdade, nem faço tanta questão disso. Tenho mesmo é medo de me esforçar para ver o que há dentro de mim e acabar me surpreendendo uma porção de coisas feias e sujas. O que aconteceria, então? O orgulho de ter conseguido chegar perto do meu coração? Ou uma grande humildade, uma humildade de cão faminto, com o rabo entre as pernas e as costelas aparecendo? Não sei, não sei — minha cabeça quase explode quando faço perguntas pra mim mesma, meu pensamento escorrega, se desvia, foge para bem longe daqui, como se ele também tivesse medo da resposta. E talvez nem seja preciso coragem. Talvez seja necessário apenas um breve impulso, como aquele que me fazia mergulhar de repente na água gelada do açude da fazenda. E eu nem era corajosa por fazer isso, apenas as tinha esquecido por um instante de mim, do meu corpo. A única coisa que eu sei sobre mim é que não sou nada nesse mundo, só estou existindo por uns tempos.