Aqui eu exponho meus sentimentos como se fosse numa vitrine, à espera de alguém que aceite pagar o preço que nunca entra em liquidação. Mas quando vem alguém e quer me levar sem questionar a etiqueta absurda, eu só penso na futura devolução. Quero voltar pros vidros amarelos e sujos, a exposição sem objetivos, ver todos os produtos indo embora e eu ficando lá, solitária mais uma vez. Como sempre. Esses rostos que me encaram, os olhos que brilham, as ilusões que se formam, as expectativas que eu deixo criarem, são minha vida. Depois disso só resta a rotina e o medo de estar perdendo a melhor parte dela. Estou cansada dessa promoção de mim, sabe? Cansei de me entregar tanto e nunca me entregar por completo, de ser só a promessa, a vertigem e a decepção. E então esse cansaço que passou de físico para mental, que não sei se é dos outros ou de mim mesma. Estou te mandando um aviso. Um bilhete colado na porta da geladeira, telegrama, sinal de fogo, e-mail, isso realmente não importa. Estou gritando seu nome no meio da rua lotada, do alto da minha insanidade. Vem me salvar. Me leva embora daqui. Prova que não é igual, que a compra não vai ter devolução no primeiro defeito,. Admito que sou cheia deles. Me compra, me leva pra casa com tudo o que tem direito. Com medo, com mania, com falar demais e sentir de menos. Por eu ser cheia de ter certeza de tudo, só quero alguém que seja o suficiente pra vir aqui e me provar o contrário.